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Redescobrindo memórias: gastronomia e amizade

Redescobrindo Memórias Anhanguera Santo André Vila Industrial

Enquanto produzem massas, bolos, tortas e comidas típicas das mais variadas, mulheres com mais de 60 anos compartilham vivências e experiências de vida. Assim são as tardes de terça-feira no projeto Redescobrindo Memórias, do Curso Superior de Tecnologia (CST) de Gastronomia da Anhanguera de Santo André – Industrial. O blog teve a oportunidade de acompanhar uma das aulas no mês passado, experimentando além de bolos maravilhosos, uma alegre e divertida tarde com a turma comandada pela chef Auri Costa.

A idealizadora do Redescobrindo Memórias é a chef Bete Carneiro, que coordena o CST de Gastronomia da Anhanguera. Tudo começou em novembro de 2014 com a criação do Centro de Pesquisa em Cozinha Brasileira. O objetivo, segundo Bete, era ajudar os alunos da graduação a pesquisar sobre a cozinha brasileira. Depois veio a ideia do projeto Redescobrindo Memórias com a terceira idade, que teve início em 2015, fortalecendo o Centro de Pesquisa.

“O intuito de chamar Redescobrindo Memórias é elas passarem no dia a dia a experiência de como colocar uma mesa de Natal, uma mesa do Dia das Mães, aquele cuidado que só uma vó tem mesmo. É uma troca entre alunos e a terceira idade junto com professores ou profissionais da área”, explica Bete, que tem como titular do projeto a chef Auri Costa. “Ela me ajudou a fortalecer este projeto, ministra a maioria das aulas ou convida profissionais da área, seleciona os alunos para vir ajudá-la. Os alunos acabam aprendendo também uma didática de sala de aula”.  

Para Bete, o projeto é um sucesso: “Elas são demais. Nós  temos a Loretinha de 93 anos, não é toda vez que ela vem, mas quando não vem manda recadinho. Quem falta um manda para o outro a fotinho. É uma família, da gente fazer pizza na casa de alguma delas, trocar presente de final de ano. A gente fala que nós que redescobrimos um lado bom da vida, e não elas”.

A chef Auri que já trabalhava com a terceira, desde que começou a dar aulas também foi conquistada pela turma: “Quando a professora Bete me falou do projeto, eu topei na hora porque eu gosto muito de estar com esta turminha”. Além das aulas de gastronomia, a programação também inclui outras atividades como aulas de artesanato e a participação de profissionais de outras áreas como fisioterapia ou mesmo da gastronomia. “Quando tem a oportunidade de chamar outro profissional que seja da área, eu sempre trago para o conhecimento ser maior. É sempre divertido e elas aproveitam”.

Participação

E o mais importante, todo o trabalho é construído e planejado em conjunto com as alunas. “Todo final de semestre a gente senta para fazer o fechamento e já planejar o próximo semestre. A gente fecha o que elas querem aprender e aí desenvolve as receitas e coloca em prática. Todo o curso é elas que comandam”.

As terças-feiras de aula são dias para renovar as energias para Auri. “É muito tranquilo, eu gosto de coração. Eu acabo aprendendo mais do que elas. A gente faz as receitas, eu discuto algumas técnicas, ai elas olham pra mim e dizem: ‘eu fazia assim e é desse jeito’, e eu digo: ‘é porque assim vai ficar um pouco mais fácil’. A gente vai trocando experiência e é muito legal. A gente realmente se transformou em uma família”, conta.

Os alunos do curso de Gastronomia são convidados para se inscrever e poder participar do projeto: “É muito legal, é uma experiência para eles e eles ganham certificado. Eles vêm e auxiliam na aula, e às vezes se acontece de eu não vir, eu aviso e são eles que tocam a aula. É uma experiência boa, porque elas ajudam e evoluem”.

Redescobrindo Memórias Anhanguera Santo André Vila Industrial 4
Esta jornalista com o animado grupo do Redescobrindo Memórias

Família

Uma das mais recentes alunas do Redescobrindo Memórias é Judit Arroio, de 82 anos. Ela conta que procurou a faculdade porque fez o Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) e queria cursar Direito. Mas, sem condições de pagar o curso, foi oferecido a ela que participasse do projeto. Fez uma aula experimental e gostou. “Eu acho gostoso porque não se esquenta a cuca. Você acha que se não tivesse companhia boa, a gente não voltava? Se estou aqui é porque quis, ninguém me obriga a nada”, destaca.  

Neusa Pereira, 72, está desde o início do curso. “A gente se distrai, se diverte, conversa, aprende a fazer coisas, come e aproveita o momento juntas”. Assim como ela, Maria Vitoria Carrasco, 62, se apegou as novas amigas. “Eu adoro esse curso. Eu penso às vezes em parar, mas depois sinto falta. A gente não é só amiga aqui, fora também. De vez em quando inventa uma pizza, um bingo, quando uma faz aniversário nós vamos para os restaurantes comer e beber, vamos para a praia na casa da colega”, conta.

Já com experiência em bolos confeitados e doces para festa, Almerinda Moreira, 70, entrou no ano passado. “Eu gosto demais. O prazer de fazer, da gente por a mão na massa é muito grande. A amizade que a gente faz também, é isso que vale”, afirma. Cecília Pecego, 74, também adora cozinhar. “Cozinho tanto aqui como em casa. Eu sempre gostei de aprender. Faço mil e uma coisas: pintura em tela, canto no coral, hidroginástica, academia, mosaico”, conta.

Elza Ponvechio, 64, está desde o início mas este ano precisou diminuir a vinda as aulas para ajudar nos cuidados com a mãe de 86 anos que tem Alzheimer e mora em Limeira, no interior de São Paulo: “Estou triste, mas eu tenho que diminuir. Infelizmente é assim mesmo a vida da gente. Eu gosto de fazer porque a gente conheceu todo esse povo. Uma vez a gente tá brava, mas estamos firme e forte. A gente vai continuando até quando Deus quiser”.  

A amizade que une o grupo também é destacada por Eliane Maria Lino Caretta, 63. “É uma maravilha, é nossa higiene mental, nossa terapia em grupo. O grupo é muito legal, unido, a gente brinca. Tem dia que uma não está muito legal, a outra dá o ombro; tem uma dor aqui, a outra faz massagem. A gente vai aprendendo alguma coisa uma com a outra. A gente veio pela culinária e é muito mais que isso. Todas as meninas, as professoras têm um respeito, um carinho com a gente, é fantástico”.

Marilda Miguel Gardim, 77, ressalta o aprendizado conquistado nestes quatro anos de curso. “Estou muito feliz de estar aqui, as meninas são muito legais. Os professores são maravilhosos. Eu gosto de cozinhar e aprendi muita coisa, novidades que vão surgindo e hoje tem muita facilidade. Eu nunca tinha feito frango xadrez, paella, sempre comprava ou ia comer fora. Aprendi umas tortas maravilhosas, a fazer pão. Minha mãe fazia muito pão, minha irmã é muito boa em pão, eu nunca fui e aqui eu aprendi a fazer uns pães muito gostosos. Estou muito feliz com o curso, pretendo continuar e recomendo com certeza. A gente se renova”, conclui.

Inscrições

O grupo já produziu um livro com receitas resgatando a memória, remetendo a infância das alunas e coisas do tipo, reunindo receitas de mães, avós. O material foi editado e impresso. E além das chefs também participam Sonia e Emerceli, alunas do terceiro semestre da Gastronomia, as técnicas de laboratório, Nathaly e Eli. Para participar do Redescobrindo Memórias não é preciso começar logo no início do semestre. Mais informações no site da Anhanguera ou pelo telefone (11) 4991-9800. A unidade fica próxima da estação Utinga da Linha 10-Turquesa da CPTM. (Katia Brito)

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