Uma mulher animada de cabelos brancos e traços japoneses chama a atenção por onde passa, como recentemente na Feira Noturna do Mercado do Produtor, em Mogi das Cruzes (SP), fazendo uma das coisas que mais gosta: dançar. Julia Uehara, de 82 anos, é um exemplo de um envelhecer bem-sucedido, vivido com alegria e compartilhado com amigos de diferentes gerações. Há 20 anos, foi eleita Miss Terceira Idade na cidade.
Nascida em Miguelópolis, no interior do Estado de São Paulo, ainda jovem se mudou com a família de agricultores para Mogi. Foram muitas dificuldades até que conseguissem se estabelecer como feirantes vendendo roupas, o que levou Julia, o pai, as irmãs e o irmão a percorrer as cidades da região.
Com muito empenho, Julia e a família investiram em uma loja no centro da cidade, onde ela trabalhou por quase 50 anos, até que o estabelecimento foi vendido. A loja, no centro de Mogi, ainda funciona mas com outros proprietários. Foi com a loja que ela comprou a casa onde mora até hoje na região central da cidade, e não troca por nenhum apartamento.
A vida hoje é dedicada às viagens, à dança, aos amigos, e às aulas de espanhol, iniciadas há três anos. Bastante ativa, o sofrimento foi grande com o isolamento exigido pela pandemia de Covid-19, mas ela não parou. As aulas presenciais do idiomas passaram a ser online.
“Quando o professor falou de Skype para mim era coisa de outro mundo, mas se eu não quero parar, eu tenho que aprender, e ainda bem”, contou Julia. As aulas que ocorriam uma vez por semana, passaram a ser três vezes. “O que eu ia fazer? Não podia dançar, não podia sair, não podia viajar. Eu tinha que fazer alguma coisa”, afirmou.
No fim do ano passado, o professor de espanhol viajou à trabalho pela América Central, e Julia pode matar um pouco da sua vontade de viajar. Sem sair de casa, foi pesquisando os lugares por onde ele passava e dando dicas de locais para visitar, coisas para fazer. Foram cerca de três meses por nove países, do Panamá ao México.
Uma outra paixão de Julia é a Argentina. Ela já esteve no país vizinho mais de uma vez, e tem preparado receitas típicas, como o logro, uma espécie de feijoada, que foi um dos pratos do seu aniversário de 82 anos, no qual ela também dançou tango. Foram duas festas na verdade, celebrando seu nascimento no dia 17 de março de 1940, e a data do seu registro japonês em 17 de abril.
Família de amigos
Julia é viúva, e tem um casal de filhos que não mora na cidade. O filho é doutor em Ecologia e mora em Brasília, e a filha, professora de idiomas, vive em São Paulo. A vida de Julia em Mogi é compartilhada com os amigos, sempre disponíveis para o que ela precisa, cercando-a de carinho e cuidados.
Entre os amigos, um casal formado por um argentino e sua esposa que a levam para viajar e almoçar fora, mas nada é planejado. Precavida, Julia sempre tem uma mala pronta. “Se eles são meio malucos, eu sou maluca e meia. Eu topo qualquer coisa. Não gosto de mentira, odeio, mas quanto a maluquice assim, eu topo”, contou.
“Eu sou feliz, sou uma pessoa realizada. Eu pretendo viver mais alguns anos, fazendo essa maluquice, dançando até não aguentar mais”, destacou. Nos planos, uma viagem para Porto Seguro, na Bahia. A região Nordeste é única que Julia ainda não conhece.
