Saúde & Bem-estar

Ciclismo: mobilidade, saúde e qualidade de vida

Opção para evitar as aglomerações do transporte público e para combater o sedentarismo, o ciclismo vem ganhando cada vez mais adeptos. Segundo a cicloativista e jornalista Renata Falzoni, o aumento nas vendas de bicicletas foi superior a 100% nesse período de pandemia de Covid-19. As empresas, inclusive, têm dificuldades para atender a demanda por modelos mais simples ou para iniciantes.

Pioneira na valorização do uso da bicicleta, Renata, de 66 anos, conta que, na cidade de São Paulo, aumentou o número de pessoas pedalando como meio de transporte. A cicloativista diz que é velha com orgulho e que a juventude é um bem que o tempo que cura. A diferença está no cuidado com o corpo e na qualidade de vida.

“Pedalando sempre um pouco todos os dias, é acumulativo. Você começa a perceber a diferença quando bate os 60. A diferença é grande com os amigos que não cuidaram do corpo. Não adianta ter boa genética, a longo prazo, o corpo manda a conta”, alerta.

Maduros

Renata Falzoni ciclsimo

Renata (foto) afirma que é cada vez maior o contingente de pessoas com mais de 40 anos pedalando. Depois dos 60, o interesse maior é pelo ciclismo de estrada. Na maturidade, de acordo com ela, a vida está organizada, se tem capital para investir em uma bicicleta melhor, e é possível negociar as saídas com a família. “É uma forma de voltar a fazer exercício físico sem machucar o joelho. O ciclismo é mais amigo do corpo”.

Para quem vai começar a pedalar, a cicloativista recomenda uma bicicleta que seja ajustada para o corpo, se encaixe ao seu biotipo e à atividade que pretende realizar. Uma solução podem ser as bicicletas compartilhadas. Se espelhar nos amigos que já pedalam é importante, assim como a vontade de experimentar.

O ciclismo é recomendado para todas as idades. “Algo que eu não tive, mas pratiquei sendo uma pessoa fora da curva. A criança brinca de bicicleta, o adolescente continua pedalando como meio de transporte e na vida adulta pedalando como lazer mesmo”.

Na vida de Renata, a bicicleta está desde sempre. “Trouxe o ciclismo da adolescência e briguei muito com status quo para continuar pedalando. No Mackenzie (onde cursou Arquitetura e Urbanismo), não tinha bicicletário. Hoje em dia os adolescentes não precisam passar por essa necessária desburocratização”.

Para todos

O importante para os iniciantes, segundo a jornalista, é escutar o corpo, já que a busca não é para se tornar necessariamente um atleta de competição, mas por qualidade de vida. Renata explica que quem sempre caminhou, correu um pouco, fez atividade física, rapidamente entende o corpo e vai saber dosar a atividade.

“A conta vai vir se der tudo no primeiro dia, mas mesmo o sedentário de uma vida inteira vai conseguir pedalar. Perceba o batimento cardíaco, pedale num ritmo, não importa a velocidade”, indica.

Quando conseguir pegar o ritmo, Renata recomenda escutar o coração. “Comece a pedalar conversando, o que vai exigir mais controle do cardiovascular, depois vai pra as subidas, não precisa ser um percurso longo. A dica principal é que nunca, em nenhum momento seja uma obrigação, que você se sinta mal, tem que ser lúdico”.

Mulheres

Renata com Teresa D’Aprile no grupo Saia na Noite em 1994

O ciclismo é um desafio ainda maior para as mulheres, pela falta de incentivos e segurança. “Os vendedores e lojistas em geral não conhecem o cliente mulher. São menos mulheres que pedalam, então converse com outra mulher”.

Grupos de mulheres ciclistas, como o Saia na Noite (leia mais no blog) que reúne mulheres mais velhas, vão ajudar a não desistir, mesmo diante da falta de habilidade e a dificuldade para que maridos ou namorados entendam a opção pelo ciclismo. Criado há 28 anos, o Saia na Noite surgiu a partir do Night Biker´s Club, fundado por Renata em 1989.

Mobilidade

As ciclovias, de acordo com a cicloativista, sempre serão um desafio para cidade como São Paulo. “Não existe um momento em que a cidade vai estar pronta, sempre tem como melhorar, como aumentar a malha cicloviária”. O Plano Cicloviário da cidade de São Paulo, divulgado no final do ano passado, prevê 173 quilômetros de novas conexões e 310 quilômetros de reformas e melhorias.

Fora do Brasil, a realidade é diferente e governos, como o francês, têm investido, de acordo com Renata, para que as pessoas não regressem aos carros depois da pandemia, com estímulos financeiros para retirar as bicicletas paradas nas garagens. A bicicleta, segundo ela, garante uma mobilidade segura, longe das aglomerações, é sustentável e mais barata que os carros.

O investimento nesse meio de transporte pode contribuir, inclusive, para o aquecimento econômico, com o redirecionamento do que seria gasto com carros. “No Brasil há uma janela de oportunidades que os gestores públicos não percebem. Não se se municiam dessa ferramenta que é a bicicleta durante e no pós-pandemia”.

Conheça mais sobre o trabalho de Renata no site Bike é Legal.

(Katia Brito / Fotos: Divulgação)

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