Valéria Barrio Novo Gonçalves

A solidão e a vulnerabilidade emocional

“É preciso coragem para ser imperfeito. Aceitar e abraçar as nossas fraquezas e amá-las. E deixar de lado a imagem da pessoa que devia ser, para aceitar a pessoa que realmente sou.” (Brené Brown)

*Valéria Barrio Novo Gonçalves

Podemos dizer que vulnerabilidade é exposição emocional, risco e incerteza. Uma pessoa vulnerável é aquela exposta a determinado risco, desprotegida. Diante disso, temos como tendência afastar e ignorar os sentimentos desagradáveis que nos fazem sentir frágeis e expostos, quando na verdade a vulnerabilidade está diretamente ligada a força e a coragem que nos conecta.

Vivemos um momento de extrema exposição emocional, risco e incertezas e muitas vezes nos escondemos inconscientemente e passamos a imagem de um “Ser forte”. Sendo que justamente a exposição de nossos medos, angústias, frustrações é o que nos faz realmente pertencente do universo que nos rodeia. É a partir da coragem de nos expor que nos conectamos e percebemos que somos muito mais parecidos do que imaginávamos.

A vulnerabilidade é a medida da nossa coragem e força. Quando nos mostramos independente do que o outro vai falar ou pensar, quando nos colocamos de peito aberto para expressar o que é essencial em nossa vida, nos permitimos fazer parte de um todo que também se sente igual. Muitas vezes o medo de nos colocarmos em uma posição vulnerável nos impedirá de viver grandes experiências no decorrer da vida.

O isolamento e a solidão já assombravam grande parte das pessoas e principalmente a população idosa. Com o afastamento obrigatório devido a pandemia, isso se tornou mais evidente, pois os recursos antes utilizados para manter o idoso ativo socialmente e pertencente deixaram de ser aplicáveis e as consequências desse isolamento já são observadas na saúde mental/emocional desse grupo.

É importante não negligenciarmos os efeitos negativos que o isolamento social exerce sobre a saúde mental/emocional a médio e longo prazo, apesar do foco atual ser a saúde física. Alguns sinais, sentimentos e humores indicam como a falta do convívio social pode nos afetar negativamente:

Tristeza

Nossa natureza busca conexão e estar em meio a companhia de outras pessoas. Isso nos faz sentir mais vivo e até mesmo os mais introvertidos necessitam de interação para obter um senso de pertencimento. A presença humana, a voz e o toque também são calmantes, um amigo, colega, parente ou cônjuge, pode ser uma fonte de apoio emocional. Quando isso nos falta, os momentos de tristeza parecem durar mais e à medida que os dias passam podemos nos tornar sem esperança, melancólicos e até deprimidos.

Vergonha e frustração

A solidão persistente é seguida por sentimentos de rejeição, abandono e baixa autoestima. Embora, às vezes, é consequência de nossas próprias escolhas, a solidão pode nos fazer sentir “inferiores” ou que “não somos dignos” do amor e da companhia dos outros. Isso gera ressentimento, raiva e até mesmo ódio.

Medo

Sentir-se só, desconectado, sem apoio pode gerar uma reação de fuga. Quando somos submetidos a um clima de medo que parece interminável o desespero se instala, e pode nos levar a recorrer a comportamentos desajustados e arriscados para recuperarmos o senso de segurança e bem-estar.

Acolhimento

Portanto diante destes sinais, nós que cuidamos e muitas vezes somos a única fonte de afeto de muitas pessoas, devemos manter um contato próximo, conversando, demonstrando preocupação com as dificuldades e necessidades dela, fazendo com que se sinta acolhida e cuidada.

E nós quando nos sentimos solitários e emocionalmente vulneráveis como resultado do isolamento, devemos fazer o possível para nos sentirmos conectados, primeiramente com o nosso interior e, depois, com os outros.

Ainda há muito a fazer sem desrespeitar as regras de distanciamento social que poderá contribuir para melhorar o seu humor e de quem o cerca, basta buscar o que vai ao encontro de seu eu e do que o complementa.

*Valéria Barrio Novo Gonçalves

Graduada em Administração de Empresas com Habilitação em Comércio Exterior e pós-graduada em Gestão Empresarial pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), sempre foi apaixonada pelo tema do envelhecimento. Pós-graduada em Gerontologia na Faculdade Paulista de Serviço Social (FAPSS), realizou cursos como de Estimulação Cognitiva para Idosos pela Associação Brasileira de Gerontologia (ABG).

A colunista do blog Nova Maturidade é responsável pela Cuidare Santo Amaro, uma franquia de Cuidadores de Pessoas – idosos, adultos e crianças, com ou sem necessidades especiais. Para conhecer mais sobre a Cuidare Santo Amaro, entre em contato pelos telefones (11) 4281-2717 ou (11) 93435-1977 ou pelo e-mail santoamaro@cuidarebr.com.br.

(Imagem principal: Pixabay)

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