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Violência persiste na família e na sociedade

Violência persiste na família e sociedade

Nesse mês de combate à violência contra a pessoa idosa, marcado pelo Dia Mundial de Conscientização da Violência contra a Pessoa Idosa, no dia 15 de junho, o chamamento é para que as comunidades se voltem para os idosos de seus territórios. Quem faz o alerta é Juraci Fernandes de Almeida, diretora da Universidade Aberta à Integração (Unai) e vice-presidente do Conselho Municipal de Idoso da cidade de Mogi das Cruzes, na Região Metropolitana de São Paulo.  

“O que eu oriento, o que eu peço para a sociedade, é que as comunidades fiquem alertas à população idosa dentro do seu território, do seu bairro, da sua vizinhança. Que procurem se ajudar em comunidade, denunciando, porque nós não podemos esperar que um idoso passe a mão no telefone e vá denunciar ou muito menos vá para a delegacia”, afirma Juraci. Denúncias podem ser feitas para o Disque 100 e não é preciso se identificar. Veja mais aqui no blog.

Sobre o Dia Mundial de Conscientização da Violência contra a Pessoa Idosa, a diretora da Unai acredita que explicar às pessoas idosas o que é violência é um retrocesso: “O idoso sabe o que é uma violência, só que ele não tem coragem de denunciar porque é para denunciar o filho. ‘Eu não vou passar a mão em um telefone para denunciar minha filha, para denunciar meu neto’. Fora que quando você chega em uma delegacia especializada, você sai com a mão abanando porque dizem isso não é crime perante o Estatuto do Idoso ou isso não é assim. Um absurdo”.

Juraci Fernandes de Almeida Conselho do Idoso Mogi das Cruzes violência família sociedade
Juraci acredita que violência se agravou com a pandemia (Reprodução Facebook)

Outra questão levantada por Juraci é que muitos desistem da denúncia contra o familiar quando descobrem que este pode ser preso e ainda não há um espaço público que possa abrigar o idoso vítima de violência. “Ela volta atrás, então isso não resolve, ou se mantém a queixa, ela sai dali e vai pra onde? Volta para casa para apanhar mais ainda daquele filho que já vinha batendo?”.

Pandemia

Como em outras matérias no blog Nova Maturidade (leia mais aqui), infelizmente a constatação é que o preconceito e a violência contra o idoso aumentaram com a pandemia de Covid-19. “O idoso já era discriminado, sempre foi pela família e pela sociedade, isso é ponto pacifico. Eu penso que se agravou. Agora tem a desculpa inclusive da pandemia. Até na hora de escolher quem vai para o respirador e quem não vai tem a questão do corte da idade e não das comorbidades. É um caso muito sério a se pensar”, alerta Juraci. Segundo ela, “o Conselho, enquanto controle social, pouco tem conseguido avançar para mudar este triste cenário”.

A vice-presidente do Conselho do Idoso de Mogi também ressalta sua preocupação com o atendimento aos idosos neste período: “Eu vejo uma negligência institucional, principalmente, nos serviços de atendimento que foram praticamente todos suspensos com o título de proteção ao público que é mais vulnerável. Eu estou até, enquanto Conselho Municipal, e como coordenadora da comissão de fiscalização, pedindo um relatório de todos esses serviços, porque isso eu recebi denúncias de que serviços não estão acontecendo, inclusive para o público que tem atendimento em casa”.

Prefeitura

A Prefeitura de Mogi das Cruzes informou ao blog que “por conta da pandemia do novo coronavírus, diversos ajustes foram necessários no sentido de preservar os idosos, que são o público mais vulnerável. O Programa Melhor em Casa (de atendimento domiciliar), por exemplo, intensificou o atendimento por telemedicina, onde os médicos seguem um check list para avaliar as condições gerais do pacientes, e, sendo necessário, é realizada a visita presencial. Essa medida é preventiva, uma vez que a maioria absoluta dos pacientes assistidos apresentam altos graus de comprometimento e baixa imunidade”. 

Já o Programa Municipal de Saúde Mental, de acordo com a administração municipal, “está trabalhando normalmente e, ao contrário, vem intensificando algumas ações em função dos efeitos nocivos da pandemia no aspecto emocional. Estão mantidos os acolhimentos e realizados incrementados os atendimentos psicológicos por telefone, sendo necessário, agendados encontros presenciais”.

Violência

Com o distanciamento social, a violência pode estar disfarçada de proteção, como alerta Juraci: “Se tem uma coisa que ultimamente tem me irritado profundamente é ouvir idoso dizendo: ‘ai meu filho não deixa’. Quem é o filho para não deixar? Isso ouvi de um empresário, autônomo, totalmente dono de sua vida. Você tem que ser responsabilizado pelo seu próprio envelhecimento, pela sua própria velhice se você é lúcido e independente. Não pode esquecer de si mesmo”.

A palavra-chave para este momento é cuide-se, de acordo com a vice-presidente do Conselho do Idoso de Mogi: “Quando eu digo cuide-se é inclusive não permitir essa invasão que muitos filhos estão fazendo. Quando começa: ‘olha a senhora não vai sair’ como proteção, e daqui a pouco já está cuidando do seu dinheiro, da sua casa e tomando posse de tudo. É assim que o idoso começa a perder sua independência inclusive financeira”. A pandemia, segundo ela, agravou muito a situação da população idosa em todos os sentidos, como solidão e renda.    

Caminho

Educação pode mudar o olhar de crianças e jovens para o envelhecer (Imagem de Steffen Eckart por Pixabay

Além do apoio da comunidade, Juraci acredita que a educação para o envelhecimento contribuiria para outro olhar sobre a população idosa: “É fundamental porque a violência vem do mais jovem dentro da família. Se houvesse esse tipo de educação, do que é o envelhecimento, que todos nós estamos em um processo de envelhecimento. Há comprometimentos que precisam da compreensão daquele que vive junto. Como o mais jovem não tem essa compreensão, porque não sente isso ainda na própria pele, ele não tem esse olhar de entendimento do que é a velhice e dos comprometimentos normais e acaba violentando de certa forma o idoso”.

Um respeito entre as gerações que faria a diferença. “É de extrema importância ensinar esse respeito, mas respeito não só porque quem é mais velho, mas tendo entendimento do que é essa velhice, que esse senhor já trabalhou, e que as rugas fazem parte. Enfim desde a criança tem que ter esse entendimento e aí serão grandes companheiros”, acredita Juraci.

O problema, porém, está na própria família e ás vezes na pessoa idosa que não se aceita como tal, como explica Juraci. “O familiar hoje não está pronto para cuidar do seu idoso. Eu, por exemplo, recebi uma denúncia dizendo que uma idosa com 80 e poucos anos estava sozinha, cuidando de tudo, e perguntei: ‘ mas o senhor está denunciando o quê?’ Porque não tem problema nenhum, uma idosa de 88, 90, 94 anos estar morando sozinha desde que ela tenha condições. Mas a sociedade também discrimina”. (Katia Brito / Imagem principal de Free-Photos por Pixabay )

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