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Velhices

Neuza Guerreiro de Carvalho: blogueira e memorialista

No III Simpósio USP Rumo ao Envelhecimento Ativo, realizado na última quinta-feira, dia 16 de maio, pude rever uma pessoa muito especial. Eu conheci seu trabalho no primeiro Simpósio USP Rumo ao Envelhecimento Ativo, quando foi uma das palestrantes, e essa semana tive a oportunidade de entrevistá-la pouco antes do início da terceira edição do evento. Neuza Guerreiro de Carvalho tem 89 anos e desde 2008 mantém o blog Vovó Neuza. Antes, em 2004, ela criou o curso Resgate de Memória Autobiográfica, que há cinco anos faz parte da USP Aberta à Terceira Idade (UATI). “Ao longo dos anos venho tentando me descrever, falar de como me sinto e dos objetivos do ano a cada época”, explica na introdução da seção “Eu sou assim” do blog.

Neuza conta que sem perfil de escritora e para lidar com editoras, “que sempre corta muita coisa que é importante pra você”, ela criou o blog. “É um negócio que você escreve sobre o que você quer, a hora que você quer, quanto você quer e sobre o que você quer”, explica. E o conteúdo é bem trabalhado, baseado em seu interesse por música, literatura, artes visuais, história de São Paulo e memória: “Um texto de um blog é um parto, porque você precisa pensar no tema, gestar aquele tema, ficar muito tempo na cabeça até passar pro papel, daí você tem que fazer um texto, eu ponho muita imagem sempre”.

A blogueira já foi destaque em diversos veículos, e revela que não se preocupa com a audiência, que aumentou depois de uma participação no programa Ana Maria Braga (Globo). Neuza também está presente nas redes sociais, embora não goste muito. “Quando começa muito bate-papo de comadre, eu caio fora, mas eu publico algumas coisas importantes. Não tem um tema, é muito pontual. Tinha um buraco na frente do meu prédio que estava muito perigoso, eu comecei a tratar o buraco pela rede social, botando fotografia, etc. Eles vinham consertavam e de tarde já estava o buraco de novo, insisti até que eles fizeram o negócio direito, o buraco já está fechado. Então é muito diferente, eu vou em um conserto, acho maravilha, então eu comento; eu leio um livro muito bom, então eu comento e indico”.

Os diferentes tipos de pessoas que passam pelo curso de Resgate de Memória a encantam: “É uma delícia porque são pessoas diferentes, geralmente o nível cultural é mais ou menos igual, mas a assimilação não tanto. Essa variabilidade de gente para participar é maravilhoso. Você vai se renovando à medida que você conversa, geralmente são mais jovens do que eu, tem alguns lugares que eu vou para palestra, etc, e todo mundo é mais novo que eu”.    

O curso é dividido em 16 temas que, segundo ela, seguem “mais ou menos” a ordem cronológica de uma vida, em encontros semanais realizados durante quatro meses. São apenas 12 vagas. Atualmente ela conta com a parceira de uma psicóloga. “Cada tema é discutido com textos de apoio e durante a semana elas escrevem uma tarefa referente aquele tema. Por exemplo, essa semana eu já recebi as tarefas, elas ficam com uma cópia para fazer o livro delas, e uma elas me entregam, porque eu leio tudo e comento, às vezes dando sugestões. Essa semana foi sobre um tema muito interessante que é vida afetiva, já passamos por identidade; infância; escolas; família que recebi, pai e mãe; e adolescência. Vida afetiva, namoro, noivado e casamento é um tema maravilhoso de discussão, de testemunhos de época, de mudanças de época”.

Embora não pense em parar tão cedo, Neuza se preocupa com a continuidade dos encontros. “Pretendo ir em frente enquanto eu tiver autonomia. Eu me desloco de bengala por segurança. Tenho a visão clara que eu preciso deixar alguém encaminhado, que participe de alguns desses grupos que são semestrais. É muito trabalhoso, principalmente porque eu leio todas as tarefas. Estou preocupada, porque esse trabalho é muito pessoal”.

Nascida em 12 de abril de 1930, esta paulistana se formou em 1951 no antigo curso de História Natural, quando a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da USP, funcionava no Palácio Jorge Street, na esquina da Alameda Glete com a rua Guainazes, no centro de São Paulo. O prédio foi demolido nos anos 1970, e como memória daquele tempo restou a Figueira da Glete, que Neuza tem lutado para que permaneça. E sobre a idade, escolhi um trecho escrito por ela no blog em 2008: “Prefiro dizer, mais poeticamente, parafraseando Machado de Assis: Estou naquela idade inquieta e duvidosa/que é um fim de tarde/e começa a anoitecer”. (Katia Brito)

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