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Mercado grisalho: potencial e diversidade

Painel destacou as iniciativas dos participantes do grupo Trabalho 60+

Empatia e escuta para entender toda a complexidade e diversidade do público grisalho, e deixar de lado a forma, muitas vezes estereotipadas, como eles são retratados na publicidade, foram os principais pontos abordados no Fórum de Comunicação e Consumo para o Mercado Grisalho, promovido ontem pela Free Aging em parceria com a Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM).

E quem melhor que os próprios idosos para destacarem suas demandas e necessidades? O grande destaque do evento, que contou com a participação de pesquisadores e especialistas de diferentes áreas, como psicanálise, tecnologias móveis, design de embalagens, gerações, economia, segmentação, representantes de grandes empresas, foi o painel de encerramento com idosos empreendedores, integrantes do grupo Trabalho 60+, mediado pela profa. dra. Vivian Strehlau. A “cereja do bolo” como prometeu a curadora do fórum, profa. dra. Gisela Castro, do Programa de Pós-graduação em Comunicação e Práticas de Consumo da ESPM.

Cinco empreendedores foram escolhidos para representar o grupo, que reúne há mais de dois anos pessoas com experiências profissionais diversas. Como explicou o fundador Eduardo Rodrigues Meyer, o objetivo é a valorização do idoso por meio do trabalho colaborativo, que seja prazeroso e tenha uma justa remuneração. Os encontros acontecem semanalmente.

No evento de ontem, entre as iniciativas apresentadas pelo grupo estava o projeto A Arte do Encontro, de Martha de Camargo Kastrup, que tem como proposta combater o isolamento e a solidão por meio de encontros do público 60+. Já Dilza Maria Franchin criou o Banco de Talentos para armazenar e copilar as jornadas e histórias dos integrantes do grupo. “Somos muito felizes e cada vez mais conscientes, que mais uma vez somos uma geração de transformação”, disse durante o painel.

Sergio Grinberg, também do Trabalho 60+, compartilha seu conhecimento acumulado como engenheiro eletrônico, desenvolvedor de softwares para auxiliar idosos a desmitificar o smartphone, a conhecer as funcionalidades do WhatsApp, a rede social mais usada pelos idosos segundo as pesquisas apresentadas no fórum. Os desafios do viver e morar são trabalhados pela iniciativa Viver XXI, representada por Lilian Shibata. O projeto contempla desde a concepção, arquitetura, construção, e principal a gestão de relacionamento, a facilitação no desenvolvimento e sustentação de coletivos de idosos.

O preconceito também foi abordado no painel. Segundo Dilza, o preconceito está presente, mas a forma como cada um se coloca, o conceito que constrói a respeito de si próprio, faz com as pessoas os enxerguem com valor e admiração. E o empreender com o apoio do grupo também foi ressaltado. “Todo dia estamos aprendendo coisas novas, nos atualizando, vendo gente como a gente fazendo suas iniciativas”, afirmou Grinberg.

Economia

O potencial econômico do público idoso foi abordado pelo prof. dr. Leonardo Trevisan. Segundo ele, é ingênuo discutir o desenvolvimento do país no longo prazo sem pensar em produtividade. As pesquisas apresentadas pelo professor revelam o aumento da contratação de executivos seniores entre 2014 e 2018, e as novas com habilidades exigidas com a utilização da tecnologia, mais ligadas ao comportamento e atitudes, que são dificuldades dos jovens. Neste sentido, os “velhenialls”, termo usado por ele, têm grande vantagem competitiva e o Japão já trabalha com eles, inclusive por meio de políticas públicas para trazer aposentados de volta ao trabalho.    

Trevisan destacou o exemplo do Japão (Fotos: Katia Brito)

Evento

O fórum é o quarto evento realizado pela Free Aging, uma plataforma de eventos que tem como eixo, segundo o CEO Edgar Werblowsky, “a pessoa que envelhece em todas as suas necessidades e desejos”. Os eventos anteriores focaram na questão de moradia, talentos grisalhos e saúde. “O fórum nasce da percepção de que a gente precisa ressignificar a comunicação com esse enorme público de mais de 50 milhões de pessoas, um quarto da população brasileira tem mais de 50 anos. Essas pessoas tem que ser olhadas nas suas nuances de grupo, de subgrupos, nas suas nuances comportamentais, de estilo de vida”, salienta o CEO da Free Aging, empresa criada por ele há cinco anos.

Free Aging foi criada há cinco anos por Edgar Werblowsky

Com experiência de mais de três décadas no turismo, a Free Aging foi criada da percepção da necessidade de um novo olhar sobre o público 60+. “A gente foi inovador com o ecoturismo há 35 anos, então a gente gosta de inovação. Nosso olhar é muito individual, de pessoa a pessoa, e depois tentar fazer esta translação para o universo do mundo do consumo, que no fundo é o que manda, o que rege toda a nossa sociedade”, explica.

A curadora do evento, a profa. dra. Gisela Castro, pesquisa o envelhecimento e a longevidade na ESPM há alguns anos, depois que foi impactada pelo filme “Amor” (2012), do de Michael Haneke. “O filme é lindo. Eu fiquei absolutamente impactada e guinei toda minha pesquisa que voltava para a cibercultura e entretenimento, porque essa é a minha resposta quando uma coisa me intriga muito, eu me ponho a estudar”, conta. Emmanuelle Riva, protagonista do filme, foi indicada ao Oscar, e morreu em 2017 aos 89 anos.  

Para Gisela, há um crescente interesse no mercado grisalho. “Devagar, mas de modo bem significativo no Brasil essa temática da longevidade está se impondo. Até uns anos atrás era um assunto ainda muito pouco discutido, e agora eu vejo esta temática ganhando mais relevância dentre os tópicos discutidos pelo mercado, há mais iniciativas voltadas para este público”, conclui. Também participaram da curadoria Werblowsky, e Tania Miné e Juliana Acquarone, ambas da ESPM. (Katia Brito)

Gisela destacou que, aos poucos, a temático da longevidade vem se impondo

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