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Velhices

Ivone de Oliveira: a gata de rodas

Ivone dividiu o palco também com Tchaka Drag Queen

Sempre é tempo de começar a pensar a velhice. Aos 50 anos, Ivone de Oliveira, do blog Gata de Rodas, pela primeira vez participou do Seminário Velhices LGBT, promovido pela ONG EternamenteSOU no Sesc Pompeia, que teve sua terceira edição na semana passada, e contou ao blog que tinha um pensamento diferente sobre o envelhecer. Ivone coordenou o bate-papo que abriu o evento na quinta-feira, Velhices LGBT: Histórias de Resistência. “Fiquei muito agradecida. É a primeira vez que falo do envelhecimento da pessoa LGBT. Nunca tinha falado sobre estas questões. Falo muito sobre a pessoa com deficiência LGBT. E para mim isso é tão importante, algo que você não pensa é na velhice, ninguém pensa”, afirmou.

Uma das coisas que Ivone descobriu foi que o envelhecimento não transforma as pessoas: “As pessoas falam que a pessoa velha muda, mas não. Eu estou envelhecendo e eu tinha um pensamento muito diferente do que é envelhecer, achava que ia ficar de outro jeito, voltar a ser criança. E o que acontece, eu estou envelhecendo e não é isso. A cabeça da gente não muda, o que muda é o corpo, o visual, o que está por fora”.

Cadeirante desde a infância, quando foi diagnostica com poliomielite, e bissexual, Ivone enfrentou questões familiares e o tabu da sexualidade. “Eu na minha história passei por tantas questões, preconceito de alguns homens heteros com os quais eu tive contato e tinham vergonha do meu corpo, tinha que ser tudo escondido. Então quando eu me vi bissexual, a história foi outra. Você se sente mais visível”, contou. Ela disse que a bissexualidade está presente desde sempre em sua vida, já que mesmo antes se sentia à vontade quando era paquerada por outras mulheres.

Os primeiros relacionamentos da Gata de Rodas foram com homens heterossexuais, e tudo mudou depois que ela se envolveu com uma mulher lésbica um pouco mais velha. “Foi nesta relação que eu cresci, evolui. Essa pessoa me colocou pra frente, me dizia ‘você vai ser protagonista da sua história, você não é essa coisa pequena que você acha que você é, você é muito mais do que isso’”, relembra.

Novo caminho

A partir de então, Ivone buscou mais informações sobre a pessoa com deficiência LGBT e em 2017, levou a pessoa com deficiência para a Parada LGBT de São Paulo. Atualmente além do blog tem um canal no YouTube com a travesti Amara Moira, o Entre Travas e Rodas. “É um canal entre falas de mulher cadeirante cis (cisgênero que se identifica com seu gênero de origem) e onde fala a mulher travesti. A gente tem uma conexão, essa intersecção transversal de corpos diferentes vistos pela sociedade”, explica.

O envelhecimento aos poucos vai ganhando destaque no trabalho de Ivone: “Eu estou envelhecendo e isso é importante. Eu tenho que colocar para as pessoas que a velhice não é tudo isso que as pessoas falam, não. Eu vivi uma vida tão opressora pela família, sociedade, de quererem calar a boca, e te deixar presa dentro do armário. Agora chega na velhice e a gente vai se esconder, vai voltar para o armário? Não. A partir do momento que você sai do armário, você não volta mais, é outra vida”. Para a gata de rodas, os traumas vividos já passaram, é hora de pensar positivo e o seu desejo é o melhor para todos. (Katia Brito)

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