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Golpes contra idosos: desconfie sempre

Entrevista especial com o consultor em relações de consumo e advogado especialista em Direito do Consumidor e do Fornecedor, Dori Boucault; ele alerta sobre empréstimos consignados, telefonemas, entre outras abordagens

Desconfie, pesquise quem lhe oferece produtos e serviços

Quem acompanha o noticiário de sua cidade ou mesmo nacional, sabe que, frequentemente, a pessoa idosa é vítima de golpes. Acompanhe nesta entrevista os alertas feitos por Dori Boucault, palestrante, consultor em relações de consumo e advogado especialista em Direito do Consumidor e do Fornecedor. Em breve, no dia 1º de setembro, dia do aniversário de Mogi das Cruzes, ele completará 70 anos.

“Depois de 30 anos trabalhando dentro da municipalidade com muito orgulho, e 25 anos também de Procon (foi diretor do órgão em Mogi das Cruzes), na universidade dando aulas, nós continuamos no nosso escritório, orientando consumidor e fornecedor, visando equilibrar a relação de consumo”, destaca. Dori atualmente faz parte da equipe do escritório LTSA Advogados, com unidades em Mogi das Cruzes e São Paulo. Há mais de 13 anos participa do quadro semanal “De Olho nas Compras”, no telejornal Diário TV (TV Diário, afiliada da Globo em Mogi).

Dori Boucault recebeu o blog para esta entrevista no escritório LTSA, em Mogi

Nova Maturidade: Por que os golpistas escolhem os idosos?

Dori Boucalt: O idoso é uma pessoa extremamente confiante no ser humano, uma pessoa que se dispõe a ajudar. Ele tem boa fé, sempre trabalhou, contribuiu, cuidou da sua família. O seu dinheiro no nosso país é muito contado, não há uma aposentadoria suficiente para as pessoas viverem bem. Ele tem que tomar muito cuidado com golpes porque tem as custas da casa, a vida pessoal, os remédios, viagens, o que ele puder usufruir, e aí que aparecem as pessoas usufruindo de sua confiança.

NM: O empréstimo consignado pode se transformar em um golpe?

Dori: O consignado é um dos piores assuntos para golpe. O idoso acredita que está recebendo alguma informação e às vezes, o malandro telefona, aborda na rua. Eles invadem sistemas, têm informações privilegiadas. Eles conseguem, nós não sabemos como, ter informação até de quem vai se aposentar. Antes da aposentadoria eles já ligam pra pessoa.

NM: Qual o limite para o consignado?

Dori: O limite do consignado é de 30% da aposentadoria, mais 5% de contingenciamento do cartão de crédito. Então quem ganha, por exemplo, R$ 1 mil, consegue fazer um empréstimo com parcelas de até R$ 300 e de cartão de crédito a 5% seria R$ 50 a parcela. Sobram R$ 650, isso seria o máximo de comprometimento, mas a gente tem encontrado situações que as pessoas vão estourando seus limites. Uma das educações financeiras mais importantes é você saber até onde pode ir. Há casos de idosos que fazem empréstimo em nome dele, mas não é pra ele, é para trocar uma televisão da casa, para trocar o carro do neto e por aí a fora.

NM: Há quem consiga empréstimos em mais de uma instituição?

Dori: Nós temos que ter um sistema muito bem travado, exatamente para a pessoa não ficar fazendo vários empréstimos fora daquele limite máximo. Às vezes a pessoa consegue repetir, fazer em dois, três estabelecimentos. Uma pessoa me ligou dizendo que 90% do salário está comprometido. Às vezes a própria pessoa dá um jeito de burlar a legislação e vem até nós em uma situação de emergência para reclamar dos juros, não do empréstimo.

NM: É possível questionar os juros?

Dori: É um problema muito difícil porque os juros no Brasil são liberados. O Banco Central libera os juros, então no Brasil são altos, até extorsivos se você comparar com outros países. No cartão de crédito, então, são os juros mais altos do planeta. Os juros de cheque especial, juros de empréstimos financeiros são bem altos, o consignado é o mais baixo só que a pessoa exagera.

NM: Quais os golpes mais comuns contra os idosos? Como evitar?

Dori: Como são pessoas que confiam nos outros, eles deixam entrar alguém que bate na casa, dizendo que é de uma empresa de água, de gás ou de telefonia. A recomendação que a gente passa através do seu blog é que se você não pediu nada, não deixe entrar. Telefone para a empresa e não para o cartãozinho que aquela pessoa que está do lado de fora vai te dar. Telefone se você tiver dúvida se aquele problema existe, porque às vezes você não notou nada e eles dizem que tem problema. Eles compram uniforme, fazem crachá, se identificam como funcionários, até adesivam os carros de uma maneira falsa. Não deixe ninguém entrar na sua casa sem ter solicitado uma empresa, chamado uma prestadora de serviço.

NM: Como é a abordagem dos golpistas?

Dori: Nós tivemos uma denúncia de golpe com botijão de gás da residência. O lote tem vazamento e pode explodir, aí entra na casa, um vai com o senhor observar onde é, verificar o tal vazamento, e o outro descobre a casa, pega algumas coisas, já assalta de antemão ou transfere as informações da casa pra alguém que vai um dia vir e assaltar. Falam que a água pode estar contaminada e então querem vender um bebedouro, dizendo que são só duas parcelas de R$ 150. Não deixa a pessoa olhar todo o contrato, assina só a primeira folha, e se for olhar tem mais dois, três anos de parcelas. As pessoas confiam que era aquele valor menor e depois descobrem que entraram em um golpe de R$ 6 mil, R$ 7 mil.

NM: E nas ruas e agências bancárias, quais as recomendações?

Dori: Às vezes há trombadas com pessoas na rua, que deixam cair dinheiro ou documentos. A “saidinha de banco” ou pega o celular. No caixa, diz que está ali para orientar a pessoa que tem dificuldade e troca o cartão na hora, tudo isso é passível de acontecer. A recomendação é não vá sozinho, não vá tarde da noite, não vá em agências distantes, não aceite recomendação de ninguém que você não conheça, porque sempre o vigarista vai trabalhar na distração da pessoa incauta, da pessoa de boa fé. Desconfie, ninguém faz milagre, ninguém quer ajudar você, quando não é uma pessoa que você conhece, que seja de boa índole. Tenha cuidado com alguém que aparece do nada.

NM: Atenção também ao telefone?

Dori: Às vezes você atende um telefonema na sua casa, e a pessoa do outro lado, uma voz feminina, infantil, se faz passar por neta, filha, que o carro quebrou, que está sequestrada, e precisa urgente que deposite um dinheiro na conta. Calma, desligue o telefone e tente encontrar outra forma de encontrar, se comunicar com a família. Às vezes você vai verificar que sua filha está tranquilamente estudando em algum outro lugar, enquanto já sairia correndo para poder pegar dinheiro e depositar na conta do bandido. Um dinheiro que jamais você vai conseguir de volta, porque a polícia vai tentar buscar, mas eles se armam de tal maneira que os golpes são difíceis de serem desvendados. (Katia Brito / Imagem de TeroVesalainen por Pixabay)

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