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Clube Teteia: educação ambiental e integração no Zoológico

Atividades do Clube Teteia são realizadas pelo Zoológico

Quando falaram para a aposentada Dalva Bertholdo Lasmar, de 83 anos, sobre o Clube Teteia da Fundação Parque Zoológico de São Paulo, ela achou que ia mexer com bichos e não se animou com a ideia. Afinal precisaria vir do bairro Tatuapé, na Zona Leste da capital, onde mora, até a Água Funda, na Zona Sul, onde fica o Zoológico. Um trajeto de aproximadamente uma hora no transporte público. Porém, quando começou a fazer parte do programa de educação ambiental e inclusão social voltado para pessoas idosas, em 2013, tudo mudou.

“Não é nada daquilo que a gente pensava. E aqui estou há seis anos. Isso pra mim é vida, amizade, esse ar puro. Aqui a gente aprende tudo, desde marcenaria, carpintaria, até direito já tivemos aula, laboratório, hospital. Eles oferecem tudo e gratuitamente”, conta Dalva, que tem os biólogos responsáveis como filhos. Mas será que ela recomenda o clube? “Não recomendo muito não porque depois não tem vaga pra mim”, brinca.

Na aula que o blog acompanhou em agosto ela chegou acompanhada da amiga Catariana do Carmo de Oliveira, 76, que mora em Ermelino Matarazzo. “Tem gente que fala: ‘o que você vai fazer tanto? ver macaco?’ E eu digo: ‘é o que você pensa’. A gente não vê quase os bichos. A gente vê onde ficam internados, a clínica, a maternidade dos bichos. A gente fica conhecendo muita coisa”, conta. Catarina, assim como Dalva, também frequenta aulas na Universidade Aberta à Terceira Idade (UnATI) da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo (Each-USP), a USP Leste.

Outros alunos do Clube Teteia, que também frequentam a UnATI, são Roberto Cunha de Oliveira, 82, e Zila Zampietro de Oliveira, 77. Casados há 52 anos, eles moram no Tatuapé, assim como Dalva. Para Roberto, o clube é fonte de aprendizado e de grandes amizades. “Não tem coisa melhor que este projeto para mim. Cada vez que eu venho aqui eu aprendo uma coisa nova. Por incrível que pareça tem sempre uma virgula e um assunto novo, e a gente vai adquirindo conhecimento”, relata.   

Dalva participa das atividades do clube desde sua criação em 2013

Inclusão e educação

O curso de Gerontologia da Each é parceiro do Zoológico no Clube Teteia, realizado desde 2013. “A gente desenvolve o programa em parceria com o curso de Gerontologia da USP e com a UnATI. As inscrições inclusive para a participação no clube são abertas com os demais cursos da Unati. Algumas vagas a gente reserva para as pessoas que entram em contato pelo Zoológico”, explica Katia Rancura, chefe da Divisão de Educação e Difusão da Fundação Parque Zoológico de São Paulo e coordenadora do Clube Teteia. São 20 vagas, sendo 15 para alunos da UnATI e 5 para abertas diretamente pelo Zoológico. As aulas começam geralmente entre fevereiro e março e seguem até dezembro. Os encontros são quinzenais, sempre nas tardes de segunda-feira.  

O Clube Teteia surgiu quando o Zoológico pretendia ampliar a gama de atividades de inclusão social. “O projeto de um aprimorando nosso, que é um residente, envolveu a inclusão de idosos. Em oficinas que ele fez a gente percebeu o potencial desse público para a educação ambiental. São pessoas muito interessadas, engajadas, que seriam possíveis multiplicadores de tudo aquilo que a gente compartilhasse com eles”, destaca Katia.

Os aprimorandos são profissionais recém-formados, com registro em seu respectivo Conselho de Classe. Eles ganham uma bolsa e têm a oportunidade de aperfeiçoar seus conhecimentos técnicos no Zoológico. Como aconteceu com o biólogo Bruno Aranda, que hoje acompanha Katia nas atividades do Clube Teteia. Saiba mais sobre Bruno e a aula que esta jornalista acompanhou pelo blog em outra matéria. Acesse o link.

Teteia

No ano seguinte às oficinas, que já levavam o nome de Teteia, o programa teve início. “A Teteia foi um símbolo para a gente, porque foi uma hipopótamo que viveu até o fim da vida dela, inclusive bateu recordes em cativeiro de longevidade com muita qualidade de vida e saúde. Pra gente ela é um símbolo do envelhecimento com qualidade, do envelhecimento ativo”, destaca Katia.

E as atividades do Clube Teteia vão além da Divisão de Educação e Difusão, chefiada por Katia. “Nós tentamos trabalhar bastante a troca de informações não só entre a equipe de educadores, mas entre toda a equipe do Zoológico, então a gente envolve outros profissionais nas atividades do clube”, afirma Katia. Assim, dentro da temática geral da programação anual dos encontros, são incluídas diferentes áreas da fundação, que desenvolvem atividades especificas para cada encontro.

As aulas começam no anfiteatro da Fundação Parque Zoológico

Neste contato com outras áreas, além de apresentar os bastidores do Fundação Parque Zoológico e seu funcionamento, os participantes do Clube Teteia conhecem um pouco das atividades que cada área desenvolve. “A gente procura trabalhar sempre assuntos com temas ambientais que são pertinentes ao dia a dia, que vão fazer sentido pra eles. Questões relacionadas à água, conservação de fauna, conexão das pessoas com a natureza, diversos temas”, salienta a bióloga.

E um dos pontos fundamentais do programa é o engajamento. “Eles compartilham com familiares, com amigos, com outros idosos que estão nos cursos (na UnATI). A gente pensa que o multiplicador é só o adulto, a criança, mas não. O potencial deles como multiplicadores é excepcional, porque eles são pessoas muito interessadas, engajadas, que se envolvem demais”, avalia. Para saber mais sobre o Clube Teteia, clique aqui. Informações sobre as atividades da UnATI, acesse o link.

Gerontologia

E o engajamento não é só dos alunos. No dia em que esta jornalista acompanhou a aula do Clube Teteia, uma estudante de Gerontologia concluía sua passagem de um ano como monitora do programa. Prestes a se formar, Anna Beatriz Moreira Marquesini Salles Navas, 26, contou sua experiência: “Eu tive a oportunidade de rever alguns idosos que eu já tinha tido contato, porque eles frequentam a UnATI. Aqui na verdade eu venho como aluna junto com eles. É uma aventura porque a gente vê que são idosos bem diferentes um do outro, alguns com algumas dificuldades de mobilidade, mas eles vêm de ônibus, carona, de carro. Eles vêm porque têm prazer de aprender e isso me deixa cada vez mais feliz”.

Depois da formatura, Anna Beatriz pretende trabalhar na área governamental, desenvolvendo políticas públicas para pessoas idosas, especialmente as com deficiência. Nascida em Assis, no interior de São Paulo, ela se inspirou nos avós maternos para se dedicar ao estudo do envelhecimento. “Eu vi a minha avó adoecer, falecer e não pude fazer nada. Hoje na faculdade eu vejo o processo de envelhecimento do meu avô, as doenças surgindo e eu posso fazer alguma coisa por ele”, revela. O avô de Anna tem 83 anos e, graças à atividade física e boa alimentação, sequelas mínimas dos dois Acidentes Vasculares Cerebrais (AVCs) que sofreu. (Katia Brito)

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