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Acessibilidade: espaços públicos e privados despreparados

Pessoas idosas ou de qualquer outra faixa etária que tenham mobilidade reduzida ou algum tipo de deficiência, enfrentam diariamente o risco de acidentes provocados por problemas de acessibilidade nos espaços públicos e privados. A arquiteta Camila Caruso da Costa Neves, diretora executiva da DUCA Arquitetura e Acessibilidade, com sede em Mogi das Cruzes, na Região Metropolitana de São Paulo, destaca nesta entrevista os principais desafios para que os espaços se tornem realmente acessíveis.

Camila Caruso há dez anos tem uma empresa focada em acessibilidade (Foto: Divulgação)

O interesse de Camila pelo tema começou no trabalho de conclusão de curso, que foi voltado à pessoa com deficiência e mobilidade reduzida, e depois se fortaleceu com o convite para trabalhar na Secretaria da Pessoa com Deficiência e Mobilidade Reduzida, da Prefeitura de São Paulo, onde conviveu de perto com a realidade destas pessoas. “Eu me interessei, já que vi que é um grupo esquecido e desfavorecido na sociedade”, destaca. A Lei de Acessibilidade (nº 10.098) é do ano 2000 e foi reforçada pelo Decreto nº 5296 , de 2004. Os padrões de acessibilidade também estão reunidos no Manual da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) 9050.

Nova Maturidade: Quais os principais desafios para que as cidades se tornem efetivamente acessíveis, principalmente para idosos? 

Camila Caruso: O assunto é complexo, porque é um conjunto de fatores que dificultam. Temos a parte burocrática dos órgãos públicos, que deveriam cobrar e exigir efetivamente ações internamente, e da população, falta a parte educacional, de se falar mais no assunto, ter mais informações nos meios de comunicação. E conscientização, afinal todos nós um dia seremos idosos. E não podemos esquecer que o idoso hoje é ativo, quer participar de atividades, quer viajar, jantar fora, atua nas mídias sociais, eles têm um papel importante hoje na sociedade. Portanto é imprescindível pensar nessas pessoas também.

NM: Por que a Lei de Acessibilidade não é cumprida por empresas privadas e públicas?  

Camila: Infelizmente com dez anos de empresa atuando nessa área, vejo resistência das empresas para se adaptarem. Acreditam que não recebam esse público em seus estabelecimentos, que a quantidade de pessoas com algum tipo de deficiência ou de mobilidade reduzida é muito pouco para o investimento. Na verdade, se o investimento for feito inicialmente com projeto de um profissional especialista, com experiência nesse tipo de trabalho, será mínimo, perto de um investimento que deverá ser feito com o imóvel já executado. Reformas e adaptações sairão com certeza muito mais caro para o empresário.

NM: Quais os principais problemas?

Camila: Independentemente da vontade do proprietário, tem o que é “obrigatório” por lei, que 90% dos estabelecimentos não cumprem e não há uma fiscalização mais efetiva dos órgãos públicos. Muitas empresas acham que ter apenas um sanitário maior com duas barras é um imóvel acessível, o que está totalmente equivocado. Cada empresa, pública ou privada, tem diversas exigências de acessibilidade. Acessos, sanitários, mesas acessíveis, circulação e por aí vai. Infelizmente as pessoas desconhecem totalmente a lei, o que tira o direito das pessoas com deficiência e mobilidade reduzida o direito de ir e vir.

NM: São muitos os riscos para idosos?

Camila: São muitos riscos nas ruas e dentro da própria casa, às vezes os mais simples que causam grandes acidentes. As adaptações para empresas vão depender do uso de cada empresa. Restaurante é um tratamento, hotel é outro, o assunto é muito extenso.

NM: Como tornar as residências mais seguras para pessoas idosas?

Camila: Em casas podemos considerar algumas atitudes simples e que podem ajudar e muito o idoso no seu dia a dia. Os tapetes, por exemplo, atrapalham a circulação. Os idosos podem tropeçar e causar uma queda. Recomenda-se retirar ou deixá-los embutidos. Colocar algumas barras de apoio no sanitário pode ajudar caso haja um desconforto ou limitação. Utilizar uma campainha no banheiro para ser acionada, caso aconteça algo. Telefone ao lado da cama para emergências. Portas de correr nos armários para facilitar a abertura. Disposição de móveis, armários e prateleiras mais baixos para acessar com mais facilidade. A parte de iluminação deverá ser clara, e em locais estratégicos, sempre em maior quantidade, para ajudar na circulação.

NM: Hoje há uma preocupação maior com a questão da acessibilidade? 

Camila: Sinceramente não acho, falando da nossa cidade (Mogi das Cruzes), falta muito ainda, principalmente na mentalidade das pessoas, que desconhecem a necessidade, normalmente porque não conhece ninguém com limitação ou porque nunca precisaram. Mas não precisa de muito, tente ir caminhar com um carrinho de bebê pelo centro de Mogi, é impossível circular sem ter obstáculos, piso inadequado, rampas colocadas em locais equivocados e por aí vai.

NM: Como mudar esse cenário?

Camila: Infelizmente o brasileiro ainda faz muitas coisas apenas com pressão, recebendo uma multa, por exemplo, ou um deficiente fazendo uma reclamação no Ministério Público, enfim vejo que as coisas acontecem efetivamente dessa forma. Ainda são casos raros de pessoas que adaptam sua empresa pensando no próximo. Mas como sempre digo, não podemos deixar de fazer porque o outro não faz, é um trabalho de formiguinha e aos poucos as coisas vão acontecendo. O certo é ter mais fiscalização dos órgãos públicos nessas empresas e mais participação da sociedade, principalmente dessas pessoas com algum tipo de deficiência e mobilidade reduzida, que buscassem seus direitos, afinal são leis de âmbito nacional e existem há anos. Entender e exigir o cumprimento das leis mais severamente é o primeiro passo. (Katia Brito/ Imagem de Steve Buissinne por Pixabay  ) 

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